InternacionalCulturaSociedade

Viajou de Portugal para o outro lado do mundo mas ficou presa numa ilha.

Foi assim que conheceu o amor da sua vida

Ana aterrou em Timor-Leste em março de 2020. Uma semana depois, a covid-19 obrigou ao encerramento das fronteiras aéreas e terrestres. “Ficámos todos fechados na ilha”, recorda. Depois veio o inesperado

Quando chegou a Manatuto, cidade costeira de Timor-Leste, para trabalhar num projeto coordenado por Portugal, Ana nunca pensou que uma semana depois iria ficar presa na ilha.

A ideia de ir trabalhar para Timor-Leste surgiu naturalmente.

Em Portugal, trabalhava há vários anos num jardim de infância, mas sempre com um pé de fora: fez voluntariado no Panamá, esteve na Guiné-Bissau e pediu licença sem vencimento durante um ano para ajudar a abrir um centro infantil em Angola. 

Quando regressou de Angola, soube através de uma colega que tinha sido aberto um concurso para aquele projeto. “E eu na altura achei interessante. Pensei: ‘Olha, porque não?’ Nunca tinha pensado em ir para Timor, sou sincera. Mas pronto, na vida é tudo um bocadinho assim e na minha vida tem sido assim”, conta.

“Aterrei em Timor no dia 8 de março de 2020”, recorda. “Uma semana depois, fecharam as fronteiras” por causa da covid-19. “Ficámos todos fechados na ilha, não tínhamos mesmo como sair”.

Um mês depois, o governo português enviou um Boeing 767 da Euro Atlantic para um voo de repatriamento de mais de 200 portugueses, na sua maioria professores destacados em Timor-Leste, como Ana. “Na altura, muitas colegas minhas foram nesse voo”, lembra. “Eu optei por ficar”.

Ana na escola C.A.F.E de Manatuto, onde dá aulas no pré-escolar. “As pessoas têm um respeito muito grande pelos professores aqui. Somos extremamente acarinhados e respeitados pelas crianças”, conta à CNN Portugal

Aos 38 anos e após várias viagens pelo mundo, Ana estava convencida de que “nada é por acaso” e não ficou assustada por ficar “presa” num país que mal conhecia, em plena pandemia. “Foi uma escolha inocente, sem pensar muito. Para mim não fazia sentido ser de outra forma. Eu tinha acabado de chegar e ia logo embora? Isso não me fazia sentido”, diz.

“Então tomei essa decisão, que me levou a conhecer o Eurico. Porque se eu tivesse ido, se calhar já não o tinha conhecido, e se calhar já nem tinha voltado”, presume.

Eurico, engenheiro civil português, aterrou em Díli em 2013, quando tinha 27 anos, de mochila às costas e com um bilhete de avião de ida e volta de três meses. Acabou por não regressar: ao contrário das suas expectativas, uma semana depois já estava a trabalhar e estabeleceu-se em Díli.

Com a escola fechada e impossibilitada de sair do município de Manatuto, Ana aproveitou para conhecer a cidade. “Como não se podia sair, fui com uma colega que trabalhava comigo dar uma volta à ilha completa, de moto”, conta, recordando como se sentiu uma “privilegiada” por poder viver uma aventura apesar da pandemia e mesmo sem que pudesse sair daquele município.

Ana em Maubisse, Timor-Leste, nas cerimónias tradicionais da aldeia. “É muito fácil gostar de Timor. É muito bonito, tem muitas dificuldades, mas eu acho que faz parte, é isso que dá também um charme à ilha”, diz.

Chega o verão

Nesse verão de 2020, já depois do levantamento das restrições à mobilidade entre municípios, Ana estava a jantar com uma colega num restaurante situado no centro de Díli quando viu Eurico pela primeira vez. Recorda-se de um gracejo da colega na altura, chamando-a a atenção para a presença do rapaz. “Só que eu não… pronto, são aquelas fases da vida em que não estás para aí virada, nem vinha à procura disso”, conta.

“Foi a primeira vez que nos vimos, mas não falámos”.

Num “meio pequeno” como Timor-Leste, e onde a comunidade portuguesa costuma “juntar-se sempre” aos fins de semana em Díli, não foi preciso muito para que ambos se reencontrassem. “E há um dia em que alguém nos apresentam”, diz, lembrando o constrangimento inicial, já que ambos tinham cruzado olhares anteriormente. “Nesse dia ficámos a conversar, lembro-me que estávamos num bar, junto ao balcão”.

A partir daí, estavam juntos sempre que havia oportunidade. Ana recorda-se que Eurico chegou a acompanhá-la quando foi ver uma casa que queria alugar. “Ele estava sempre pronto a ajudar, era sempre muito prestável”, lembra.

Ana e Eurico em Ubud, nos planaltos de Bali, na Indonésia. “Sempre que fazemos uma viagem sentimos que crescemos juntos”, conta Ana

Passados cinco anos, “ainda aqui estou e já não estou sozinha”, diz, sem esconder o sorriso. Depois de dois anos a viver em Manatuto, Ana foi viver com Eurico em Díli. Em 2023, nasceu a filha, Camila.

Juntos e longe da família, o casal tem aproveitado para viajar. “Por incrível que pareça, estamos a conseguir viajar mais desde que a bebé nasceu”, confessa Ana, lembrando as restrições a viagens a que estavam sujeitos por causa da covid-19. Desde que estão juntos, já visitaram Sumba, Bali e Labuan Bajo, na Indonésia, Macau e Hong Kong e mais recentemente Taiwan (este último um destino que Ana aconselha “a toda a gente”). Também viajaram para Singapura e conheceram o Vietname numa viagem de comboio de norte a sul do país, sempre com a filha.

Ana grávida de Camila. “Quero muito que a Camila leve memórias do sítio onde nasceu e do que, no fundo, é a nossa casa”

“Quando viajamos com alguém criamos memórias e os laços tornam-se ainda mais fortes. Porque ultrapassamos desafios juntos, vivemos coisas novas em conjunto e isso é muito enriquecedor a vários níveis. É enriquecedor a nível pessoal, mas também enquanto família, torna-nos mais fortes e mais unidos. Sempre que fazemos uma viagem, sentimos que crescemos juntos”, contempla Ana. “Essa é a nossa filosofia e é isso que queremos passar à nossa filha”, acrescenta.

É por isso que o casal pensa voltar a Portugal, mas só dentro de alguns anos, “talvez dois”, pondera Ana. “Quero muito que a nossa filha leve memórias do sítio onde nasceu e que, no fundo, é a nossa casa”, afirma.

Até lá, o objetivo é viajar o mais possível. “Uma das nossas motivações para estar aqui é cumprir sonhos de viagens. Ainda queremos ir pelo menos ao Japão, Nova Zelândia e Austrália”, estabelece, observando que a logística de viajar para esses destinos é mais facilitada estando em Timor-Leste.

 

O casal e a filha no Vietname. “Quero que ela tenha memórias, que não seja só as memórias das fotografias e das histórias que ouve”, diz Ana

Sobre o futuro, Ana mantém o espírito pragmático. “Não sei como serão os próximos capítulos deste livro”, confessa. Desde muito nova que se lembra de ser assim, prática e intuitiva. “Como eu digo desde muita nova, e que chateava toda a gente quando o dizia: ‘Eu nem sei se amanhã estou cá’”.

“Ninguém tem a fórmula perfeita nem a forma correta de viver a vida. Cada um vive à sua maneira. A minha maneira não é melhor nem pior do que a de ninguém. É diferente.”

FONTE : CNN PORTUGAL

 

Você também pode partilhar sua história de amor – redacaoportugal@portaldn7.com.br

Redação Portugal

O Portal DN7 foi inaugurado em 2015 pelo Jornalista Internacional Alexandre Amaral Brunialti e tem como objetivo divulgar informações que contribuam para educação e a cultura geral. Promover a Cultura da PAZ. Direção: Welinton Brunialti MTB 0077859/SP

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo